Era uma noite escura de um outono rico em ventanias e tempestades. No castelo, uma calmaria sem precedentes. Nenhum dos nove fantasmas queria se manifestar. Talvez fosse os raios, ou um simples incenso de arruda. Mas hoje, ao menos, eles estavam aquietados. Quem sabe, apaziguados.
Elas estavam sozinhas, apesar de acompanhadas por alguém que não se sabe quem é. Uma vestia uma forte couraça, uma armadura de couro que a defenderia de qualquer espada ou lança. A defenderia de seus movimentos, de sua naturalidade. A manteria protegida dela mesma, de sua honestidade e de sua liberdade. Ah, como é bom ser livre quando nos colocamos amarras... A outra usava um trágico vestido verde esvoaçante. Creio que se achava uma princesa. Afinal, era um castelo, não? Castelos necessitam princesas! O castelo se sente incompleto sem a princesa. Pena que os sentimentos do castelo estivesse tão estagnado pra perceber o frenesi que era capaz de criar na cabeça das moçoilas. E mesmo assim, ele seguia com seus fantasmas apaziguados.
As meninas se buscavam, uma a outra, mas sempre em vão. Como acreditar que uma garota de vestido verde tem capacidade de encontrar aquela que se encobre? E mais, é possivel as fortes amarras do couro romperem-se pela seda? O toque macio da pele é capaz de libertar uma lágrima oprimida?
Elas correram. Subiram escadas. Chegaram na torre. Velas, muitas velas. Nada que uma pisada em fácil não resolvesse. Uma pisada. Apenas uma. Velas. Poderiam ser ovos.
Sobe uma labareda inconsequente. As cortinas mostram-se ao fogo, como uma sedução barata. O fogo resseca a armadura, seus poderes e habilidades caem por terra. Agora ela está desprotegida, e seus temores eram tão sólidos quanto a loucura que se tomou. Sua insegurança não a permitiu retirar-se de suas vestes. La estava ela, entre couros secos, sem poderes, atada por si mesmo, até tombar.
Sobem as chamas, e o vestido de seda ameaça por contorcer-se. Vorazmente ela corre e desce pelo corrimão. Sua euforia ao ver as a fumaça ficando para tras não a possibilitou de ver o final do corrimão. Uma queda mau tombada. Uma cabeça. Alguns degraus. Uma queda.
Eram onze fantasmas que habitavam um velho terreno. Todos temiam a si mesmos.